Se você parar para estudar o processo criativo e as suas aplicações em qualquer área criativa, vai encontrar esse fenômeno presente na carreira de praticamente todo mundo: o bloqueio criativo.
Veja bem, eu estou me referindo a um obstáculo interno que impede o artista de produzir ou continuar produzindo algo que ele considere relevante e interessante.
É uma espécie de blackout. Pode até se confundir com um esgotamento emocional ou exaustão causada pela rotina.
Mas o que interessa é que as idéias que surgiam não surgem mais e sua fonte interna de auto-motivação começa a perder energia.
Não vou me deter nas causas do bloqueio criativo neste post. O que quero é dar 3 estratégias para sair dele ou evitar que ele aflore.
Dê um tempo!
Parar de tentar é uma das coisas mais eficientes.
Se você está se esforçando para criar um projeto autoral por um tempo razoável e nenhuma idéia lhe aparece, ou as que aparecem são ruins aos seus olhos, simplesmente pare de tentar.
Durma, dê uma corrida, jogue dominó com alguém, vá pescar… mas pare de tentar.
Deixe seu cérebro mudar de direção por uns dias ou horas. Desencane!
É muito provável, que “sem querer”, enquanto faz outra coisa surjam os “eurekas!”.
Mude as fontes
Somos alimentados criativamente por várias fontes, de várias linguagens.
Geralmente os fotógrafos se inspiram muito nas artes plásticas e no cinema, que são duas linguagens muito relacionadas à fotografia. E isso é bom e natural, não perca isso. Mas existem relações mais distantes que podem lhe dar conexões novas.
E o que chamamos de “nova idéia” na verdade é uma conjunto de novas conexões. Não existe nada novo, acredit!
Sugiro que você busque entender e apreciar (curtir mesmo) relaxadamente a música, a dança, a arquitetura e a gastronomia. Pra começar. Mas atenção: curta! Deixe-se levar! Inclusive tente dançar, bolar um projeto, tocar um instrumento ou fazer uma criação na cozinha.
Brinque com o fantástico
Tente escrever uma história absurda (aos olhos de um adulto).
Sabe aquelas historinhas que as crianças criam sobre um “pepino que fala demais”, ou a “briga do tijolo com o giz de cera”? Então, pegue algumas palavras, transforme em personagens. Mude o universo ao redor, ponha um camponês na lua. Tente qualquer absurdo.
Se ficar difícil, brinque de inventar uma historinha com uma criança abaixo dos 7 anos de idade. Elas são especialistas nesse campo. Mas leve a história à sério, como elas levam.
Faça uns desenhos. Imagine um filme. Invente.
Precisamos entender que nosso cérebro tem tempos e caminhos que não conhecemos totalmente. Mas esse tipo de estratégia cria movimentos internos que driblam o tão temido e tão comum bloqueio criativo.
Especificamente na fotografia
Quero listar agora coisas que, especificamente na fotografia, nos paralizam, nos bloqueiam.
1) Fotografar pensando no que os outros vão pensar. As redes sociais intensificam isso.
Fotografar pensado na opinião alheia (de forma ampla e geral) é um veneno para a a visão fotográfica. Esse caminho leva à aceitação de modinhas fotográficas e não explora a identidade do fotógrafo enquanto criador de conteúdo visual.
Evite publicar para quem não é seu público-alvo e/ou para quem não tem compromisso com o seu desenvolvimento.
2) Não estar sempre com sua câmera. Mesmo que seja com o celular (que sempre estamos com ele). Mas parece que entre os estudantes de fotografia, a rejeição do celular como ferramenta plenamente viável ao treinamento fotográfico é muito maior do que entre a população em geral.
Se você está nos 3 primeiros anos de carreira na fotografia e fotografa menos que 1/2 hora por dia, todos os dias, está faltando prática na sua rotina.
3) Pressa. Não olhar com os olhos certos. Com o tempo necessário. Isso também mata a sua fotografia. É preciso meditar, degustar uma cena. Mesmo que seja num ambiente tenso e agitado como no centro de uma grande cidade.
O seu tempo interno e seu ambiente emocional interno é que tem que estar calmos. E isso é cada vez mais raro.
4) Seguir regras demais. As “regrinhas” são boas como etapa didática na sua formação. Mas o objetivo é que chegue uma fase em que o conceito da imagem que você deseja criar seja o seu guia.
É preciso dominar as técnicas, as regras e as quebras de regras. Siga uma idéia! Crie uma imagem que está na sua mente. A fotografia começa sempre na mente.
5) Falta curadoria e/ou auto-curadoria. Saber dizer sim, não e talvez para as suas próprias imagens é difícil. Tendemos a tratar nosso trabalho como um filho (e em certo sentido é mesmo).
Mas é preciso filtrar, questionar, avaliar e principalmente rejeitar o que é necessário no seu trabalho. Isso é fundamental para o seu desenvolvimento.
Isso pode ser feito por você mesmo e por outros profissionais contratados. Existem excelentes ferramentas práticas de curadoria e auto-curadoria.
Se você precisa de ajuda com isso, nosso programa de Mentoria inclui esses conteúdos.
6) Falta alimento. Alimente sua mente com coisas à beira da fotografia. Veja o portfólio de gente criativa: filmes, poemas, cartazes, arquitetura, dança, música… dê bom alimento para sua mente.
Procure a relação que existe entre esses “alimentos” e a fotografia em si. Tempo, movimento, cores, texturas, volumes, planos, metáforas, rimas, sensações, sentimentos… as idéias estão em todos os lugares. Basta estar atento.
Alimente-se também do trabalho que a história da fotografia consagrou. Fale com os “mortos”, fotógrafos brilhantes fizeram trabalhos que pra isso consumiram uma vida toda.
Concluindo
Enfim, ter tempo de menor criatividade, um bloqueio criativo ou menor produtividade é normal. Mas é preciso identificar os fatores que nos levam a isso para podermos evitá-los. Assim, com o passar do tempo, adquirimos a habilidade de nos dar “respiros” criativos para uma recarga mental e para seguirmos em frente. A obra nunca acaba.