Câmeras mirrorless

Vários colegas de profissão vem me perguntar porque eu mudei de sistema de câmera e/ou quais as minhas impressões sobre o sistema mirrorless.

Bom, vou contar. Mas, antes de mais nada, se você não sabe o que é uma mirrorless, vou explicar rapidinho.

As câmeras tradicionais (DSLR) possuem um conjunto de espelho/pentaprisma que é responsável por permitir que o fotógrafo veja a cena atravez da lente ocular.

Quando o disparador é pressionado, o espelho muda de posição, a ocular “apaga” momentaneamente e o sensor pode capturar a imagem.

Nos modelos mirrorless, não existe o conjunto espelho/pentaprisma. Isso permite a construção de um corpo de câmera menor, mais leve e mais rápido. Essa é a razão do nome “mirrorless”. Voltemos ao “causo” original.

As DSLRs

Desde quando iniciei na fotografia trabalhei com sistemas Nikon. Meu último kit da marca foi uma dupla de câmeras D750 com lentes, 14-24mm f/2.8, 24-70mm f/2.8, 70-200mm f/2.8 e fixas 35 f/1.4mm, 85mm f/1.4 e 105mm f/2.8 macro. Ou seja, um excelente kit e nada a reclamar em termos de desempenho.

Eu costumo dizer que não existe equipamento mais durável que Nikon. Pra mim esse é o grande ponto forte da marca. Equipamento Nikon aguenta mesmo.

Eu comecei a pensar na mudança para o sistema mirrorless por algumas razões: O meu trabalho não demanda a robustez incrível da Nikon e a marca não estava acompanhando de maneira consistente, a tendência do mercado de mudança para o novo sistema.

O peso do equipamento sempre me incomodou. Gosto de trabalhar de forma mais discreta e sem carregar tanto peso, mas equipamento Nikon é pesado.

O futuro próximo do equipamento fotográfico é mirrorless, gostemos ou não disso. Meu palpite é que até 2022, nenhum fabricante de câmeras fará mais DSLRs.

Minha transição

Em 2014 comecei a pesquisar e 3 marcas chamaram minha atenção: Sony, Olympus e Fuji.

O sistema da Sony (série A7) tinha e tem muitos atrativos, especialmente para usuários de lentes Canon, mas tem um ponto contra (pra mim) que é o fato de usar sensores Full Frame. Essa escolha da marca, facilita a migração para o novo sistema, mas impede a redução consistente de peso e tamanho do equipamento, visto que as lentes tem as dimensões costumeiras dos sistemas de DSLRs FF.

E antes que você me questione, um sistema APS pode ter o mesmo desempenho que um Full Frame. Nem sempre Full Frame é melhor.

A Olympus (série OM) tem um nível de qualidade de imagem incrível, sensores pequenos (até demais), mas um linha de lentes muito limitada e pouca presença no Brasil. Então, logo descartei a possibilidade, apesar das avaliações técnicas com resultados excelentes feitas por laboratórios e sites especializados.

Fui ver a Fuji. Na minha lista de prós e contras ela obteve a maior pontuação. Sensor APS-C, ótima linha de lentes (esse é o ponto mais forte na minha opinião), pequena, leve e cheia de recursos úteis para o meu trabalho.

Além disso, a marca tinha uma estratégia de mercado que traria segurança para os usuários, com uma série de lançamentos previstos no cardápio de lentes e acessórios.

Escolhida a marca, fui migrando item por item. Mês sim, mês não eu vendia uma lente Nikon e comprava uma Fuji. No fim de 2016 a mudança estava completa.

Hoje estou 100% Fuji e muito satisfeito. 2 câmeras da linha XT, lentes fixas 14mm f/2.8, 35mm f/1.4 e 56mm f/1.2 e 90mm f/2. Já realizei diversos  documentários e vários casamentos com o equipamento.

O maior ponto fraco da Fuji era (e ainda é) o sistema de flashes. Mas isso está mudando. O flash EF-X500 é um modelo de boa potência, com praticamente todos os recursos dos meus anteriores flashes SB-910.

Pra quem filma e fotografa também há ainda limitações nos recursos de vídeo. E as baterias vem melhorando ano a ano, mas ainda são uma dificuldade. Mas esse ponto é sensível para qualquer marca de mirrorless.

De forma geral eu creio que todo fotografo de sistema full frame ou APS, deve se preocupar e se preparar para a migração. As DSLR estão em declínio e o sistema mirrorless é o novo padrão.

Marcas

Hoje em dia (2021) temos uma linha de mirrorless em todas as principais marcas do mercado:

  • Canon: EOS R, EOS PR, EOS R6
  • Nikon: Z7, Z50
  • Sony: A6500, A6400, Linha A7, Linha A9
  • Fuji: XT-3, XT-4, XPro-3, X-20, X-30

A Sony se destaca neste cenário por ser a principal fornecedora de sensores para quase todas as grandes marcas. No fim, quase todo mundo tem uma câmera “Sony”.

Além disso a Sony tem a linha mais extensa em modelos e saiu na frente da Canon e Nikon na linha do tempo. Isso deu a ela uma vantagem competitiva interessante no que diz respeito ao mercado de câmeras usadas. Quem vende mais, tem mais câmeras usadas no mercado e isso incentiva novos usuários a começarem.

Um avanço que eu creio que o “mundo mirrorless” trouxe foi a diversidade. Tanto em funções quanto em layout. As marcas estão buscando diferenciação oferecendo recursos mais originais e alguns bem específicos para alguns nichos.

Considere antes de mudar

É importante traçar uma estratégia SUA para a migração. Digo isso porque talvez você tenha hoje um bom equipamento DSLR que faz fotos incríveis. Será que é mesmo adequado pensar em uma mudança agora? Depende!

Se seu equipamento é novo, se tem boas lentes e tem os resultados que você espera, talvez você perca muito dinheiro na migração e não tenha uma grande diferença de resultado final.

Se seu equipamento já não é o mais “top”, talvez seja uma boa oportunidade para migrar e não “sobrar” com esse equipamento na mão valendo quase nada.

Você pode fazer uma migração lenta. Compre uma mirrorless básica e a lente de distância focal que você mais usa. Vá migrando de um sistema para outro aos poucos.

Neste caso haverá o incômodo de ficar trabalhando com dois sistemas diferentes, cores diferentes, auto-focos diferentes por um tempo, mas é uma boa maneira de ir testando e ajustando o investimento aos poucos.

Vantagens

As principais vantagens de uma mirrorless, independentemente de marca, são:

1) Tamanho e peso: o corpo é menor por conta da inexistência do conjunto espelho/pentaprisma.

2) A maneira de fotografar: a sensação de discrição, maneira de pegar a câmera e uma tendência a ter muitos controles à mão muda a maneira de fotografar.

3) Visor eletrônico: essa é a característica que incomoda muitos usuários de DSLR. Eu pessoalmente, acho muito melhor um eletronic viewfinder do que a ocular optica tradicional. Poder ver tudo (cena, indicadores, parâmetros e fotos capturadas) com o olho na câmera é ótimo especialmente em locais ensolarados, onde o LCD não serve pra quase nada.

4) Auto-foco: a cada geração as melhorias nesse item são gritantes. A Fuji deu um salto enorme da XT1 para XT2, da XT2 para XT3 mais ainda. Sempre há o que melhorar (sempre há), mas o auto-foco já está no mesmo nível de desempenho das principais câmeras DSLR. Em algumas situações, melhor.

5) Lentes: de forma geral, quanto mais recentes os projetos de lentes, melhores eles são. Eu não sou afeito a usar lentes antigas em câmeras novas, com raras excessões. Os novos sensores digitais são feitos para novas lentes. Só assim é possível ter o máximo desempenho do conjunto. Sony, Olympus e Fuji tem óptica impecável. E lente é o componente mais importante do equipamento fotográfico.

Desvantagens

1) Durabilidade das baterias: esse é o principal ponto fraco das mirrorless em geral. Aliás, esse é o principal problema dos equipamentos eletrônicos no mundo hoje. Como as baterias são menores, a durabilidade da carga também é. Então, é preciso comprar algumas a mais.

2) Sensores de mirrorless sujam mais. Isso é chato. Você vai querer aprender a limpar. Qualquer troca simples de lente é oportunidade para que alguma poeirinha fique grudada lá. O sensor é muito exposto.

Conclusão

Se você quer começar a migrar de sistema, pense bem nas necessidades do seu campo de trabalho na fotografia. Escolha o sistema que seja adequado, mas sem deixar de considerar o posicionamento de mercado da marca para que nos momentos de atualização de itens do seu kit, você não “sobre” com equipamentos que não tem mercado. Mas, migre assim que puder.

CHARBEL CHAVES
CHARBEL CHAVES

Fotógrafo e Professor de Fotografia desde 2010. Desenvolve trabalhos autorais, comerciais e educacionais simultaneamente. Autor do livro "Jornada: As histórias que as fotografias contam"

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