Uma daquelas coisas que ficam esquecidas naquela gaveta que chamamos de passado, ou “do meu tempo” (engraçada essa expressão), é o cartão postal.
Eu, também junto a ele, o selo, a carta, o lápis… coisas simples e que marcam a vida de muitos de nós.
O cartão postal é talvez, uma versão antiga da publicação do Instagram.
Era um jeito que tínhamos de trazer ou levar uma viagem nossa para a vida de pessoas queridas. Ou, quando o recebíamos, ganhamos um pouquinho daquele lugar como um abraço visual.
O cartão postal é icônico, simplificante, mas representativo. Ele cria no observador uma visão desejada do lugar ou tema.
Devíamos fazer de algumas fotos, “tipo” cartão postal!
Alguns, armados de um lápis, fazem de poemas:
Cartão Postal
Domingo no jardim público pensativo.
Consciências corando ao sol nos bancos,
bebês arquivados em carrinhos alemães
esperam pacientemente o dia em que poderão ler o Guarani.
Passam braços e seios com um jeitão
que se Lenine visse não fazia o Soviete.
Marinheiros americanos bêbedos
fazem pipi na estátua de Barroso,
portugueses de bigode e corrente de relógio
abocanham mulatas.O sol afunda-se no ocaso
como a cabeça daquela menina sardenta
na almofada de ramagens bordadas por Dona Cocota Pereira.
Publicado no livro Poemas (1930). MENDES, Murilo. Poesias, 1925/1955. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1959