Estrutura de trabalho para fotografia

Um aspecto muito importante quem quer viver de fotografia é a sua relação com as suas ferramentas e local de trabalho. Um ambiente adequado e eficiente torna qualquer trabalho mais fácil. Além disso, existe uma forte relação entre pensamento criativo e ambiente de trabalho. Vale a pena pensar e repensar o seu.

O básico

A lista básica é curta, mas frequentemente difícil de escolher:

  • Câmera
  • Lentes (poucas e boas)
  • Flash
  • Cartões de memória
  • Baterias extras
  • Bolsa
  • Tripé (de acordo com a sua área)

Câmeras: uma questão de sensores

Uma boa câmera e lentes. Parece pouco, mas já é uma grande questão para muitos fotógrafos.

As câmeras Full Frame são aquelas que possuem o sensor no tamanho dos fotogramas analógicos (de antigamente, como diria minha vó!). Ou seja, 35mm x 24mm. Já as câmeras APS (ou cropadas) são as que possuem o sensor de 24mm x 17mm aproximadamente.

Em que isso impacta a sua fotografia? Bem, sensores APS fornecem um “corte” no campo de visão, em relação às Full Frame. Como o sensor é menor, ele “recolhe” a imagem de uma área menor (cortada, daí a relação com a palavra crop).

Na prática uma lente 50mm em FF, entrega uma imagem equivalente a aproximadamente 85mm em APS. Uma lente 35mm em FF, entrega uma imagem equivalente a 50mm em APS.

Observe que existe um aparente “ganho” de distância focal em APS. Consequentemente, se você trabalha com áreas da fotografia que demandam lentes mais longas, mais “tele”, é um bom negócio usar uma APS. Uma lente 200mm por exemplo, entregará o equivalente a 300mm em APS.

No entanto, se você precisa de grande ângulos de visão como na fotografia de arquitetura ou grande paisagens, vai precisar de uma FF, porque você vai querer que uma 24mm entregue realmente o que uma 24mm foi feita para entregar.

Sensores e ruídos

Existe uma relação importante entre o tamanho do sensor e a quantidade de ruído digital presente no arquivo. Sem entrar em pormenores técnicos, a questão é a seguinte: quanto mais próximos os fotocoletores (elementos que capturam a luz criando os pixels da imagem) estão uns dos outros, maior a propabilidade de se ter ruído.

Ou seja, sensores pequenos com alta contagem de megapixels, são mais propensos a ruído que sensores grandes.

No entanto, a cada nova geração de câmeras, menos significante é esse problema. Hoje em dia, câmeras básicas já apresentam excelente desempenho em ISOs 1600 ou mesmo 3200. E com o passar de uns poucos anos não falaremos mais em ruído para ISOs até 12800 ou mais.

Outra questão, que é difícil de engolir para fotógrafos iniciantes é que o ruído na era analógica da fotografia (então chamado de granulação, pois era um resultado químico), sempre foi algo muito bem aceito por fotógrafos e clientes.

A era digital da fotografia estranhamente trouxe uma certa “mania de limpeza”, muitas vezes desnecessária. Pode-se dizer que boa parte da preocupação com ruído é “encanação” do fotógrafo. Então, considere em termos estéticos também, se o ruído pode/deve ser incorporado no seu trabalho de forma natural. No meu, ele é.

P.S: Claro, existem áreas da fotografia, como a publicitária, por exemplo, onde ruído, por motivo de padrão deste mercado, não é aceito hoje em dia.

Quantos megapixels?

Um megapixel é igual a 1 milhão de pixels. Cada pixel é um ponto da imagem. Um sensor de 24Mpx, tem tipicamente 6000 colunas de pontos e 4000 linhas de pontos. Isso gera uma imagem de 6000×4000 pixels = 24 milhões de pixels.

Mas, para que eu preciso de tantos pontos? Primeiramente, para imprimir fotos em grandes formatos de papel. Por exemplo, 5Mpx é suficiente para imprimir com excelente qualidade em um papel de 30x20cm (aproximadamente um A4). Já um arquivo de 24Mpx permite um impressão incrível em 50x75cm (aproximadamente um A2).

Mas se a questão não é imprimir, é a penas visualizar em tela, saiba que um arquivo de 1200px na sua aresta mais longa é mais que suficiente para a grande maioria das aplicações em WEB. Em uma tela de celular, por exemplo, está ótimo.

Mas mesmo em uma tela de TV a demanda por Mpx não é tão grande. Veja, uma tela Full HD tem 1080 x 1920 pontos, ou seja 2Mpx. Uma tela 4k, que é o dobro da largura e o dobro da altura de uma FullHD, tem 8Mpx.

Outra vantagem em capturar imagens com muitos pontos é que, na edição podemos cortar partes que não nos interessam e ainda assim termos um arquivo grande o suficiente para impressões em A4, por exemplo.

Interpolação

Mesmo com um sensor de 24Mpx, podemos criar impressões bem grandes através de um procedimento chamado interpolação que, muito simplificadamente, é a criação de pontos que não existem originalmente na imagem capturada.

O software irá analizar um conjunto de pixel vizinhos e criar um ou mais pontos entre eles de maneira a ganhar resolução a mais! Parece gambiarra, mas não é. Existem softwares que fazem esse procedimento com incrível qualidade.

A questão das lentes

Entenda, a escolha das lentes está diretamente relacionada ao assunto fotografado e ao sensor como acima.

Algumas distâncias focais são típicas de determinadas áreas, por exemplo:

Arquitetura10mm a 24mm
Retratos85mm a 135mm
Esportes e espetáculos70mm a 400mm
Documentários16mm a 200mm
Eventos sociais20mm a 100mm
Still (fotografia de produtos)80mm a 150mm

Esses são apenas alguns exemplos. E nada impede variações ou inovações nessas áreas, mas é um padrão típico.

Lentes diferem entre fixas e zooms também. Lentes fixas são aquelas com uma única distância focal. A mais conhecida de todas, a 50mm. Lentes assim colocam o zoom nos nossos pés! Ou seja, pra aproximar ou afastar um assunto, é preciso se deslocar fisicamente em relação a ele.

Lentes zooms são lentes de distância focal variável, ou seja, numa mesma lente temos o equivalente a várias. Isso é prático, versátil e fundamental para muitas situações.

No entanto, lentes fixas, quase sempre tem mais nitidez e uma construção melhor. Isso não é uma regra, mas entre as boas marcas do mercado, quase sempre acontece. As lentes fixas são especialistas.

Se você estiver começando na fotografia e ainda não tem muito claro qual área irá atuar, pense em adquirir uma lente bem versátil como 24-120mm, ou mesmo 18-135mm.

Evite uma variação de DF muito ampla como 18-240 ou 24-350mm por exemplo. Frequentemente lentes assim são atrativas, baratas, mas sacrificam muito a nitidez.

Lentes são, sem dúvida, o elemento mais importante do equipamento. Analise bem antes de comprar. Vou deixar aqui um site muito útil para te ajudar tecnicamente a tomar sua decisão.

A questão do flash

Preciso confessar que sempre desconfio de quem diz que ama luz natural. Sempre me passa pela cabeça que essa pessoa não sabe usar um flash. Não que eu não goste ou não reconheça as vantagens de uma boa luz natural, mas são coisas complementares.

O flash é um equipamento incrível, quando bem usado. Uma boa foto com flash é nítida, impactante, equilibrada. Nos casos de eventos sociais, uma boa foto com flash é aquela que não parece que “tem flash”.

No entanto, dominar o flash demanda estudo bem técnico e muito treino. Mas depois disso ele certamente se tornará seu maior trunfo. Dominar o flash significa ter controle da luz, seja onde for.

Os flashes dedicados, esse pequenos que acoplamos sobre a câmera, são relativamente baratos hoje em dia. Existem boas marcas como Youngnuo ou Godox, além das tradicionais (em bem mais caras) Nikon, Fuji e Canon.

O flash é portátil, intenso o suficiente para a maioria dos casos e quase não pesa na sua mochila. É certamente o melhor investimento que você pode/deve fazer logo depois de dominar a técnica fotográfica básica com a sua câmera.

O seu espaço comercial de atendimento

Ter ou não ter um local para receber clientes ou criar um estúdio de captura e pós-rodução é uma decisão diretamente ligada a dois fatores: dinheiro para investir e necessidade da área escolhida.

Quem fotografar eventos sociais, à priori não precisa de um estúdio. Pode perfeitamente receber seus clientes em um café, na casa deles, ou na sua própria casa. É perfeitamente possível simplificar as coisas e reduzir esse custo.

Mas quem fotografa retratos corporativos por exemplo, deve pensar bem. Pois pode tanto fotografar em estúdio quanto no local de trabalho do cliente, ou mesmo ao ar livre. É necessário ter o estúdio? Não. Mas amplia as possibilidades.

Já outras áreas como fotografia de recém-nascidos tem quase como padrão o estúdio. Fotografia de produtos, idem. Fotografia de moda, também. No entanto é sempre possível misturar as duas maneiras de criar as imagens: em estúdio e ao ar livre ou no local do evento/cliente.

Montando um estúdio básico

Se a sua decisão for por um estúdio, mesmo que pequeno, saiba que existe um kit fundamental para adquirir, além do local. O local deve ter no mínimo 3x4m. Eu considero um estúdio ideal, 4m x 8m. No entanto o meu tem 4x5m. É o que tenho, e tento tirar o melhor possível dele.

Fora o local, você deve pensar em aquirir a seguinte lista de equipamentos e acessórios:

Suporte de fundo fotográfico e fundos. Podem ser instalados na parede ou não. E os fundos podem ser lisos ou estampados, geralmente com 3m de largura, feitos de papel, vinil ou tecido. Nada impede que a própria parede de uma sala seja o fundo. O ideal é que seja sempre fosca. Cores ideias e bem versáteis são o branco, preto e cinza médio.

Estantes para flashes. Eu considero um kit mínimo de 3 estantes com 3 flashes. Nestas estantes também irão os modificadores de luz (sombrinhas, softboxes, beauty dishes, snoots…) conforme a necessidade ou criatividade.

Flashes. Como já disse, 3 flashes é um ótimo começo. Eu uso 3 flashes dedicados Godox. Nunca precisei de mais. Em estúdios pequenos como o meu, isso é muita luz e muita praticidade.

A vantagem de usar flashes dedicados e não tochas está na simplicidade e mobilidade. Facilmente esse estúdio pode ser transportado para um trabalho externo, sem tomadas, sem cabos, sem peso.

Sistema de rádio. Usando flashes fora da câmera, precisamos de um sistema de disparo, de preferência sem fio. São os famosos radio-flashes. Existem de dois tipos: manuais e TTL. E sempre tem 2 componentes, o transmissor (que fica na câmera) e os receptores (cada um em um flash).

Os rádio-flashes que eu uso são os mais simples, chineses, somente manuais. Não transmitem os dados complexos dos sinais TTL. Sendo assim, eu penso a luz totalmente em modo manual. Parece complicado mas não é. Na verdade é o jeito mais lógico e claro de se fotografar em estúdio.

Custos ligados ao estúdio

Um estúdio é uma escritório de uso específico. E como em qualquer imóvel comercial temos os seguintes custos fixos, basicamente:

  • Água, luz, internet
  • Seguro do imóvel
  • Aluguel (se não for um imóvel próprio)
  • Serviços de limpeza
  • Insumos de limpeza e alimentação
  • Manutenção eventual

Seja qual for a sua decisão, coloque tudo na ponta do lápis. Uma das coisas mais importantes para o sucesso de um negócio na fotografia é manter os custos baixos.

Pós-produção

Um bom computador (computador para fotografia), dois HDs externos e um ótimo monitor bem calibrado. É isso.

Podemos incrementar? Sempre podemos. O uso de mesa digitalizadora é muito frequente entre profissionais de ponta na pós-produção. Mas é preciso insistir um pouco no início para se acostumar, mas vale muita a pena.

O ambiente onde o comutador fica instalado para pós-produção é importantíssimo para que não haja interferências indesejadas:

  • Paredes pintadas em cinza neutro
  • Luzes elétricas, calibradas em 6500K
  • Cortina com blackout nas janelas (se houver)

Tudo isso é importante, mas o principal é CALIBRAR o seu monitor. Não existe que não precise disso. Se você estiver aqui na minha região (Campinas/SP), sugiro que procure a Especialista FineArt.

Se você uma um notebook, o que é muito prático, saiba que não existe tela de notebook que seja confiável. É sempre melhor ter um monitor externo de referência, calibrado, ligado a ele.

Um bom começo, barato e relativamente confiável são os monitores da linha Ultrasharp da Dell. Veja aqui.

Atendendo bem

Se você vai montar um estúdio, já pense em coisas legais que agregam conforto para o seu cliente. Assim o seu atendimento ficará muito mais envolvente e profissional.

Trocador/maquiagem. Ter um local para troca de roupas, preparo de maquiagem e cabelo pode ser muito atrativo para quem quer fazer fotos com variações de look, por exemplo.

Café/água. Ter um cantinho assim é ótimo, amistoso, aconchegante. Parece bobagem, mas qualquer conversa flui melhor com um cafezinho.

Bancada de pós-produção. Se você puder ter uma mesa na própria sala do estúdio com um computador e monitor grande, será excelente. Seus clientes podem ver o resultado ali mesmo, na hora da captura.

Álbuns e fotos impressas. Se na sua área a venda de fotolivros e álbuns é algo importante. Tenha um espaço com um sofá e um aparador com seus materiais físicos. Pense numa boa luz. Seus clientes vão se interessar mais por isso se estiverem confortáveis.

Considerações finais

Seja organizado. Crie uma rotina, quase uma mania por manter tudo no lugar. Seus papéis, equipamentos, livros. Ambiente limpo e organizado geralmente reflete uma mente limpa e organizada.

Se isso não é uma realidade no seu ambiente de trabalho, mude aos poucos. Escolha dar um passo de cada vez. A consistência é a melhor forma de mudar hábitos. E bons hábitos sempre trazem bons resultados.

Trabalhe sempre em ciclos de melhoria. Tudo em um negócio pode ser melhorado sempre. Mas nem tudo pode ser melhorado muito de uma só vez. E nem precisa.

Se seu local de trabalho ainda não é como você deseja, melhore ao poucos, conforme o dinheiro entra. Se seu equipamento ainda não é aquele dos sonhos, avalie o que é mais necessário no momento, que seja suficiente para o trabalho e invista mais quando entrar mais dinheiro. Faça tudo dentro de uma racionalidade financeira, aos pouco você atige níveis bem altos.

Evite comparações. Elas te levam quase sempre a uniformização no mercado. A melhor comparação é a de você com o você do mês anterior.

Quando nos espelhamos demais no trabalho de outra pessoa, para além da inspiração, quase sempre vamos nos tornando essa pessoa em algum aspecto. O mais comum é passar a realizar o trabalho fotográfico nos mesmos moldes que ela. Isso vai contra a maior e melhor estratégia de mercado: a diferenciação.

Diferencie-se desde e o início. Claro que sempre começamos imitando. Isso é parte do processo, dá segurança ao aprendizado e estabelece bases. Mas, é preciso saber que ninguém precisa (e nem deve) espelhar outro profissional, nem tanto, nem por tanto tempo.

Aos olhos do cliente, a sua marca deve ser distinta. E você, suas atitudes, seu fazer fotográfico são grande parte da sua marca. E ela pode se distinguir em diversos campos: técnica, marketing, atendimento, preço (para cima ou para baixo), entrega, posicionamento de mercado…

Comece decidindo qual ou quais valores (palavras-chaves) serão o centro do seu negócio. Tudo o que você fará em termos fotográficos e administrativos começará a orbitar esses valores.


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CHARBEL CHAVES
CHARBEL CHAVES

Fotógrafo e Professor de Fotografia desde 2010. Desenvolve trabalhos autorais, comerciais e educacionais simultaneamente. Autor do livro "Jornada: As histórias que as fotografias contam"

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