Quantas vezes você já se perguntou se a prática vale mais que a teoria? Ou, se a teoria aprendida realmente melhora a prática? Se você quer se tornar um fotógrafo profissional, essa questão com certeza já passou pela sua cabeça.
Antes de ser fotógrafo eu era músico. Pianista. No meio musical me parece mais claro que no meio fotográfico que músico é quem faz música. É quem toca, quem canta, quem compõe. Se uma pessoa não sabe ler uma só nota na pauta, mas toca bem, tudo bem. Ser músico é “musicar”! O mais importante é o resultado prático.
Mas como em todas as artes existe um academicismo que polui a vida diária dos personagens. No mundo da fotografia também existe uma divisão bem estranha entre os fotógrafos-técnicos e os fotógrafos-artistas. Mais um sintoma da mania de encaixotar as pessoas, como se isso fosse possível.
Bom, hoje sou fotógrafo e professor de fotografia. E tenho que lidar com essa dicotomia prática-teoria praticamente todos os dias. Eu ensino as pessoas a fotografarem melhor e parte dessa atividade consiste em pensar em “qual a melhor forma de explicar isso?”. Então, é importante pra mim ler o que outros professores ensinam e como ensinam determinados conceitos. Entender as coisas teoricamente é realmente importante.
Meu pai é um homem simples e extremamente prático, a ponto de achar quase errado o apego de alguns com a “teoria” das coisas. Ele é um homem do fazer. Aprende fazendo. Aprende vendo os outros fazerem. Não tem paciência nenhuma com aulas teóricas. Mas nem todos são assim. Eu herdei um pouco do meu pai e gosto demais das situações onde eu consigo demonstrar um conceito antes de dar a teoria por trás dele. Por outro lado, a base teórica me ajuda muito na consolidação do conhecimento e me dá um nível de segurança que eu aprecio muito.
Mas independente das inclinações pessoais que podemos ter para o lado da teoria ou da prática, é importante saber/lembrar/viver com objetivos “produtivos” na arte. A arte exige produção.
Ser artista é transportar uma idéia (por mais maluca, estranha ou restrita que seja) de uma cabeça (a do artista) para outra cabeça (a do observador). Para realizar essa transposição usamos um elemento chamado “obra de arte”. A obra de arte é algo que carrega a expressão do artista. É preciso fazer a obra. É preciso ter o conceito na cabeça. É preciso realizar a transposição. Se o artista não dá os nomes técnicos corretos, não sabe explicar tudo de modo “nerd”, mas realiza essa transposição… é arte sendo realizada! Por outro lado, se alguém sabe tudo tim-tim por tim-tim, todas as escalas, usa o jargão, domina o equipamento, mas não cria a ponte entre a sua mente e a outra mente através da sua obra (no meu caso, a fotografia)… não há vida. O alvo não foi atingido. A comunicação não aconteceu.
Não quero aqui sugerir ou afirmar que teoria, conhecimento técnico, seja dispensável. Não é. Saber o porquê das coisas facilita, corta caminho, agiliza, dá precisão. Mas a realização da obra não depende disso. Depende do conceito, do repertório do autor e do domínio das técnicas para a realização. Depende da existência de uma idéia ou intenção artística e meios para ser expresso.
Eu sou professor. Adoro ensinar. Prezo pela teoria. Mas ela é só um facilitador do processo tanto didático quanto produtivo. Minha sugestão é: estude para produzir. Mas ame, deseje, foque em produzir mais do que em estudar as teorias. Saiba tudo o que puder, mas na hora de fazer, faça com suor e coração.
Todo o estudo que estiver incorporado na sua mente, servirá de substrato para o seu trabalho naturalmente. A arte só acontece se você fizer acontecer.
Maneiras de estudar fotografia
Existem várias maneiras de acessar tanto o conhecimento sobre fotografia quanto adquirir as habilidades da área. E é essa diferença que, penso eu, deve pesar na balança na hora de escolher qual caminho tomar para tornar-se um fotógrafo. Vamos do mais empírico para o mais acadêmico:
Aprender ajudando um fotógrafo mais experiente
É aquela milenar ideia de aprendiz/mestre. Você vai ficar na cola de um fotógrafo experiente, tipo Sr, Myagi e Daniel-San (nossa, revelei a idade agora!).
Procure alguém na sua região que precise/queira um assistente de estúdio, de eventos, que tenha um mínimo de paciência e disposição para te treinar. Fique com esse “mestre” durante um ano, por exemplo. Você vai entender tanto a técnica quanto os meandros do negócio dele.
Aprender com um grupo de amantes da fotografia
Toda cidade tem um ou vários grupos de amigos fotógrafos que se unem para flanar (perambular com câmera na mão em busca de cenas legais para registrar). Além de divertido, social e leve, é uma maneira simples e muito prática de aprender o básico e testar diversos tipos de desafios fotográficos já que na maioria das vezes esses grupos praticam a chamada Street Photography (fotografia de rua). E nada é mais didático que fotografar na rua, por acreditar.
Aprender por vídeo-aulas ou livros
Eu aprendi muito assim. E hoje em dia é possível encontrar muito material bom e gratuito no Youtube. Vale a pena garimpar. Mas confira em mais de um canal, ou com o apoio de livros da área. Existe muita informação incompleta e incorreta também.
Nas editoras Photos, GGilli, Senac, Bookman e Alta Books, existem muitos títulos excelentes de livros para quem quer iniciar e ou se aprofundar na fotografia.
Aprender com um curso on-line
Os cursos on-line são a modalidade do nosso tempo. Baratos, variados, você estuda no seu tempo, no conforto da sua casa. Nem todo mundo se adapta a essa modalidade. Mas é um dos melhores caminhos hoje em dia.
Cursos técnicos ou superiores
Não posso generalizar e dizer que é uma perda de tempo. Existem cursos bons e ruins. No entanto, o dinheiro e tempo investidos me parecem desproporcionais a demanda do mercado. Serão aulas e mais aulas de conteúdos teóricos, importantes, mas que podem ser adquiridos por conta própria em livros. Eu sei que nem todo mundo vai fazer isso. Muita gente precisa daquela rotina de “ir à escola” para ter disciplina.
Minha maior questão, especialmente com os cursos superiores de fotografia no Brasil, é a elevada carga horária em conteúdos puramente teóricos. E a baixa carga horária em prática com câmera na mão. A segurança e habilidade vem do treino frequente. E isso não é a ênfase da grande maioria dos cursos técnicos e superiores.
Geralmente o aluno fica mais “seguro” porque receberá um diploma no fim de anos de estudo. No entanto, diplomas de fotografia valem tanto quanto diplomas de músicos, quase nada. A excessão é para os que pretendem seguir também a carreira acadêmica ou prestar concursos públicos na área. Se for esse o seu caso, vá em frente.
Indo além do básico
Depois de cumprido seu aprendizado básico de técnica, iluminação, composição e tratamento de imagens, é possível que você pense em ter seu negócio rentável na fotografia. Se for este o caso, venha participar do nosso Programa de Mentoria para Fotógrafos.
Além das habilidades técnicas, você vai precisa tornar-se um gestor, uma administrador e um estrategista de um negócio comercial, para tornar a fotografia uma profissão.
Aprendendo a aprender
Aprender é algo pessoal. Cada um de nós tem uma via de aprendizado que nos traz melhores resultados. Alguns aprendem lendo, outros na companhia de um professor, outros apenas vendo alguém fazer… Hoje em dia temos muitos canais de informação disponíveis: a internet, livros, revistas, blogs, escolas presenciais ou on-line.
No entanto, ter acesso à informação não faz de você ou de mim um fotógrafo. A fotografia se aprende fazendo. É preciso receber instrução e treinar. Ver e ouvir alguém falando numa tela não te faz um fotógrafo. Nem mesmo ver e ouvir alguém falando em um palco de um congresso de fotografia ou mesmo na sala de aula.
O que te faz fotógrafo no fim das contas é o ato de fotografar, tentar, errar, entender o erro e tentar de novo. Não estou dizendo que para fotografar bem, a estratégia seja o “tentativa e erro”, não. É preciso informação correta e treinamento prático.
A maioria dos alunos chega aqui na escola sem nunca ter tentado ler o manual de instruções da câmera. Eu entendo que os manuais não são muito práticos. Mas grande parte do conteúdo dos cursos básicos de qualquer escola está acessível no manual da câmera. Entender o que é ISO, abertura, tempo, modos de disparo, modos de foco… está tudo no manual. Mas as pessoas não leem. E se leem não entendem. Não aprenderam a ler de verdade.
E isso prenuncia um outro problema para quem deseja ter a fotografia como atividade profissional. Se a pessoa não se dispõe ou não consegue ler um simples manual, do equipamento mais básico da sua profissão, o que dirá manter-se atualizado e estudando sobre administração, marketing, vendas, atendimento… coisas básicas para o trabalho no seu dia-a-dia.
De todas as maneiras de que aprender a mais importante é a disciplinada. E ser disciplinado significa enfrentar a suas preguiças, procrastinações, limitações, medos. Aprender é um ato de coragem. Coragem contra si mesmo.
Estamos na era da informação, rápida, ampla e gratuita. E nunca se aprendeu tão pouco, de maneira tão rasa, com objetivos tão vagos. Muitas boas escolas e bons cursos tem poucos alunos. Muitos aplicativos de celular “concorrem” com elas. Muita gente consome, mas pouca gente aprende. A idéia de que a tecnologia emancipa o aluno é uma ilusão amplamente aceita. O corriqueiro é encontrar pessoas que não querem aplicar-se no aprendizado, querem que o conteúdo e as habilidades entrem na sua cabeça sem nenhum esforço.
Aprender é uma luta. Não tem tecnologia que mude isso. Se você quer aprender a fotografar bem e passa mais que dois ou três dias sem pegar na câmera, não vai aprender. Se quer aprender a tratar suas fotos no Lightroom, e passa a semana sem treinar, não vai aprender. Simples assim. É preciso fazer, repetir, muito.
É preciso aprender a ser aluno, aprender a aprender. Aqui neste site você vai encontrar muito material para apoiar seu desenvolvimento. Posso te ajudar, te guiar e até em alguns momentos te inspirar, mas quem tem que “suar” é você. E, se você correr à minha frente, alcançar seus objetivos, torna-se o fotógrafo que deseja, eu ficarei muito feliz por isso. Pode ter certeza. Bons estudos!