A fotografia do seu tamanho

Estamos vivendo tempos de muitos novos males. Mas um deles me chamou a atenção no nosso 4o Encontro de Negócios Fotográficos, dia 19 de outubro de 2018, aqui na escola de fotografia.

Em meio às muitas discussões relevantes, surgiu uma fala sobre “sermos autênticos” em nosso labor fotográfico, ou (com uso similar) “termos uma fotografia autêntica”.

Só pra especificar melhor o tema aqui, a idéia é que “cada fotógrafo precisa mostrar seu trabalho de forma autêntica e um trabalho que seja realmente seu, fruto de quem se é”.

Bom, vamos girar um pouco neste tema. Às vezes esse “fruto de quem se é” é um desejo de criar uma obra fotográfica que transpareça a sua personalidade. Issó é muito bom.

Mas minha abordagem aqui neste post é um pouco lateral a isso: faz parte do “quem se é”, os nosso limites. Parte de nós são os nossos limites. E é com isso que eu quero lidar.

Muito frequentemente, um iniciante na fotografia aproxima-se de uma linha que eu chamo de linha da profissionalização. É aquela época/ocasião em que ele começa a pensar (e eventualmente a se preparar) para fazer da prática fotográfica uma profissão, o seu ganha-pão.

Neste ponto, ele começa a analisar as áreas comerciais da fotografia (casamentos, gastronomia, família, moda, still…), começa a entender tudo o que é necessário para o negócio (finanças, legislação, formalização, contratos, orçamentos…) e começa a ocupar mais e mais do seu tempo com as atividades que constituirão o seu fazer fotográfico (domínio da técnica e equipamentos, pós-produção, impressão…). Ele quer realmente viver de fotografia. 

Em poucos meses ou até semanas, essa pessoa vai perceber que a demanda de tempo, energia e dinheiro para “viver de fotografia” é grande. E simultaneamente vai comparar-se a outros que estão no mercado, produzido, atendendo clientes.

Ele vai começar a projetar caminhos viáveis para sair da situação em que ela está e chegar na situação que ela mentalmente (ou planejadamente) projeta. Para um bom grupo desses entrantes no mercado são visíveis dois conflitos, duas reflexões pessoais desanimadoras:

1) Não tenho tanto tempo, energia e dinheiro para produzir tudo o que gostaria e/ou deveria. Além disso, a divulgação do trabalho realizado também adiciona uma boa carga de trabalho.

Para resolver essa questão é preciso aplicar estrategicamente o que temos em termos de recursos, ao longo do tempo.

2) Não tenho conseguido criar o “meu olhar”, a “minha identidade”, mostrar a “minha arte”, como gostaria pois o trabalho mais comercial me toma muito tempo e me força a produzir para o cliente, muitas vezes da maneira que o cliente quer.

Para resolver essa questão é preciso equilibrar trabalho com treinamento. Sabendo que o desenvolvimento de um “olhar fotográfico” não é algo que chega em meses de estudo, mas em anos, às vezes em décadas.

Bem, cada um de nós, goste ou não tem um potencial e uma possibilidade. O potencial é aquilo que você pode transformar em resultado se houver possibilidade real, prática.

Ao contrário do que qualquer auto-ajuda barata (ou cara!) pode estar lhe dizendo, você tem limites. Você pode ter muitas idéias criativas, muito talento, muita facilidade para a fotografia, mas pode não ter tempo.

Realoque algum tempo. Não existe tempo livre! Todo o nosso tempo está aplicado em algo. É preciso escolher, dentro do possível o que não fazer.

Pode ser que a sua necessidade de manter sua casa, sua vida e relações familiares, já ocupe bastante tempo e energia, assim não “sobra”muito para gastar com fotografia. Gaste o que pode!

Pode ser que existam ainda limites de dinheiro para todos os investimento, mesmo os mais básicos, para que seu fotógrafo profissional surja. Faça o melhor que pode, com os recursos que você tem.

Suspeito que esse dilema possa vir (não sei dizer sobre cada pessoa) de uma expectativa romântica e irreal. Talvez você tenha glamourizado demais a fotografia, espelhando-se em algum grande fotógrafo e projeta isso na sua vida. Mas você não é ele. Você não tem o universo de potencialidades e possibilidades que ele tem.

Você está tentando ser outra pessoa? Forçar “a barra” para ser outro vai certamente colocar em risco alguma área da sua vida. Talvez as finanças, talvez os seus relacionamentos familiares, talvez a sua saúde até.

Se você se percebe indo nesta direção, tenho 2 idéias para lhe dar:

1) Recue. Isso mesmo, volte alguns passos. Lembre-se que na vida de ninguém a fotografia é a coisa mais importante. Por mais que você goste dela. Sem saúde, sem relacionamentos, sem dinheiro… a fotografia vai minguar, vai falhar, vai inexistir pois outras coisas mais importantes foram ignoradas. É uma questão de tempo.

2) Financie-se. Encontre outra coisa na sua vida que possa ser o seu ganha-pão. Mude a estratégia. Coloque a fotografia em um local mais seguro para ela. Não dependa dela para viver. Quando as necessidades comerciais cessam sobre ela, talvez as possibilidades mais “artísticas” floresçam.

Muitas vezes, a obrigação pelo sustento pode tirar o brilho, o frescor, a alegria de fotografar. Seja um amador (com muito amor)!

As pessoas em geral não imaginam a quantidade de grandes fotógrafos que estão por aí e que não vivem diretamente da fotografia. Advogados, professores, médicos, bombeiros, designers… pessoas que deixaram o espaço mais livre e desimpedido da sua vida para a sua fotografia. E sustentam sua vida financeira de outra forma. Criam seus trabalhos com a agenda e possibilidades que têm e fazem a exposição dos resultados na web, em livros auto-publicados, exposições…

Não há demérito nenhum nisso, isso não é um fracasso é uma estratégia e pode ser muito libertadora!

Cada um de nós é um universo limitado. Por pior que essa frase possa soar (e sei que soa um tanto pessimista), acredite você não pode ser tudo o que deseja. Pelo menos não sem muitas perdas pelo caminho.

E sendo limitados, somos desafiados a sermos o máximo que podemos dentro do nosso “tamanho”. A luta é para encontrar o “máximo saudável de cada um”.

Não queira ser outra vida, outra pessoa. Seja o máximo possível de você mesmo, e alegre-se com isso, satisfaça-se com isso. Isso já é uma enormidade que 99% das pessoas nunca alcançam.

Se quiser tratar desse tema de maneira mais específica, entre em contato comigo pelo whatsapp e vamos conversar. Ou se você já está lutando na fotografia, talvez queira conhecer nossos serviços de mentoria.

Temos também um grupo no Whatsapp com conteúdo diário e gratuito sobre negócios na fotografia! Participe!

CHARBEL CHAVES
CHARBEL CHAVES

Fotógrafo e Professor de Fotografia desde 2010. Desenvolve trabalhos autorais, comerciais e educacionais simultaneamente. Autor do livro "Jornada: As histórias que as fotografias contam"

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