Cinco passos para alcançar a inspiração e produzir fotografias criativas

Não é um dom místico, não é um traço de personalidade e muito menos incontrolável e espiritual, é um processo mental, uma habilidade, e somos capazes de desenvolver essa habilidade com prática e estudo.

Vamos falar sobre Criatividade

“No princípio Deus criou o céu e a terra” é a primeira frase do livro mais popular do mundo. O protagonista desse livro é um criador, de criatividade absoluta e inalcançável, e Ele decidiu criar, além de todo o mundo, uma criatura semelhante a Ele em muitos aspectos, inclusive nessa criatividade.

Claro, como criatura, não somos como Deus. Não podemos criar nada do zero, apenas espelhar o que Ele fez no princípio, porém a criatividade não é só uma característica comum a todos, mas também uma habilidade a se desenvolver e um dos pilares do que nos faz seres humanos.

Uma habilidade a se desenvolver

A criatividade funciona em um fluxo de pensamentos, tão natural que a todo momento usamos nossa criatividade sem perceber, quando encontramos novos caminhos para evitar o trânsito, organizamos nosso armário ou produzimos arte.

As ideias que temos surgem desse processo, que nada mais é do que uma desconstrução de conceitos conhecidos e sua reconstrução em algo que chamamos de “novo”. Claro que o “novo”, nesse caso, não veio do nada, mas é apenas uma reciclagem do que já existia, mas isso não tira nenhum valor da criação. É, na verdade, parte da sua própria essência.

Um espaço sem julgamentos

Quando estamos procurando ter ideias, o que chamamos de inspiração, é fácil cairmos na armadilha da crítica. Criticar suas ideias é o primeiro passo para matar a criatividade. Nenhuma ideia sai pronta da nossa mente, elas devem ser lapidadas, as vezes apenas uma parte delas será usada.

Pense nas ideias como a receita de um bolo, você não pode dizer se um bolo está bem feito apenas olhando para o livro de receitas, você precisa segui-la até o fim e provar um pedaço, e só então poderá criticar o seu bolo. Da mesma forma, enquanto procura por ideias, não julgue nenhum pensamento que tiver, pelo contrário, anote e guarde todos eles, por mais absurdos que sejam.

Acumular material

Já definimos que as coisas novas são apenas coisas antigas recicladas, então para que você possa criar suas próprias reciclagens, precisa ter acesso a essas “coisas antigas”. Esse é o primeiro passo do processo criativo: O acúmulo de material.

Quando estudamos literatura, lemos muitos livros, quando estudamos cinema, vemos muitos filmes, e na fotografia, você precisa ler muitas fotos antes de começar a criar as suas próprias. Eu digo “ler muitas fotos” porque você não deve apenas olhar para elas, precisa analisar ativamente seus elementos e entender o que eles são, aprender sua função e então realmente estudar a fotografia e desenvolver um olho de fotógrafo, não de público.

Todas as fontes são válidas

Além do estudo de sua área, nessa caminhada de aprendizagem você pode encontrar material em todos os lugares. Não limite seus estudos apenas a fotógrafos. A fotografia inclui elementos em comum com outras áreas de conhecimento e arte, como narrativa, geometria e ótica, portanto você pode encontrar material que será útil em qualquer lugar, basta manter uma visão analítica do que você absorve.

Além disso, tudo pode ser fotografado, então nunca pare de olhar pra tudo.

Escolha bem suas referências

Diferente de fontes de material, suas referências são representantes dos seus ideais. Pessoas que possuam características que você considera essenciais, nas quais você se espelha e com as quais você deseja se parecer no futuro.

É importante ter referências na sua carreira porque elas vão te lembrar de que é possível alcançar a excelência, a trajetória delas vai ensinar a você como enfrentar as dificuldades no caminho e a arte delas vai te inspirar e fazer parte do seu trabalho assim como os genes dos seus pais fazem parte dos seus genes hoje.

Você não vai se transforma em suas referências, mas elas serão responsáveis por te formar como artista e profissional na sua carreira.

Todo mundo começa imitando

Algo difícil para muitas pessoas é o treino. Em especial na fotografia, quase ninguém ensina que devemos imitar os artistas que gostamos, diferente de outras áreas da arte, como a pintura e escultura, em que, para praticarmos determinada técnica, começamos imitando os artistas já existentes.

A imitação por imitar talvez pareça muito como o plágio, mas o foco da imitação deve ser em entender como aquele profissional chegou naquele determinado resultado. Escolha uma fotografia que você ama, de uma de suas referências, e tente reproduzi-la. Se conseguir tirar a foto no mesmo lugar que a original, melhor ainda, mas ao fazer isso, você vai invariavelmente passar por muitos dos mesmos obstáculos que aquela pessoa passou para tirar aquela foto.

Isso pode não te ajudar a ter muitas ideias, mas assim como é impossível criar um livro sem conhecer as palavras, é impossível criar fotografias sem conhecer os elementos que formam as fotos, e a imitação nos ensina exatamente quais são esses elementos, dificuldades e como superá-las.

Mudar o contexto

Voltando ao conceito de reciclagem, vamos pensar no contexto. As folhas de um caderno, depois de recicladas, podem se tornar caixas, sacolas e até itens decorativos. Essas coisas continuam sendo papel, mas não são mais as mesmas coisas e muito menos usadas no mesmo contexto.

Assim são as ideias mais inovadoras, elas são apenas uma aplicação de conceitos conhecidos, em outros contextos. Ketchup pode simular sangue num filme, o som de cocos pode simular o barulho de cascos de cavalos e até mesmo uma lâmina de metal pode fazer o mesmo som que trovões.

De onde vem o significado?

O significado de um objeto é o que precisamos mudar, falando de uma maneira mais prática. Por exemplo, um pedaço de madeira comprido e oval, nas mãos de um sufista, é uma prancha de surf enquanto o mesmo pedaço, com o mesmo formato, se tiver quatro suportes, pode ser uma mesa, e alguém que olhar para ela pode nunca pensar em uma prancha de surf.

O trabalho de quem transforma uma prancha em uma mesa é conseguir mudar o significado de um elemento, e esse significado depende muito mais do contexto em que ele está colocado do que do elemento em si.

Quando você olha para o exemplo do cinema, os sons que eu citei podem ser fáceis de identificar quando não estão ligados à uma cena de tempestade ou de cavalgada, mas quando colocados nesses contextos, você quase não percebe que aqueles sons não vieram do que você está vendo na tela.

Enquadrando mensagens

Um elemento essencial na composição de fotografias é o enquadramento. Ele diz muito sobre a mensagem que você quer passar. Com o enquadramento, podemos exaltar a grandiosidade de uma construção quando incluímos uma referência na foto, ou podemos destacar um detalhe que passaria despercebido quando focamos em um pequeno ponto.

No livro Desenhando Quadrinhos, Scott McCloud fala sobre enquadramento nos quadrinhos, que se aplica completamente à fotografia. Ele diz como as pessoas dão importância ao que está no centro do enquadramento. Pode ser um movimento, uma ausência, uma distância a ser percorrida ou uma que já foi percorrida.

Enquanto para que vê a foto, o enquadramento mostra o que está presente, para quem faz a foto, ele é uma tarefa de cortar fora o que não deve ser mostrado.

Escrevendo com imagens

Tudo isso é muito útil, mas você quer fotografar, não fazer mesas de surf ou efeitos sonoros, então como traduzir suas ideias em imagens? Isso depende muito do que falamos no início, se você tem o costume de ler e estudar fotografias, você tem nas suas mãos a linguagem.

Falamos em português porque pensamos em português, e para falar com imagens você precisa estar tão imerso nessa “língua” e ter praticado tanto, que você é capaz de pensar com imagens, não simplesmente traduzir do português

Textos sem palavras

A fotografia transmite uma mensagem, sendo assim, ela é um texto, e como um texto, você escreve fotografia. Para chegar nisso, você precisa fazer uso dos elementos que a compõe: Luz, forma e composição.

Dominar esses elementos te permite moldar uma imagem, ou seja, escrever uma fotografia, para transmitir o que você deseja. A fotografia é mais subjetiva do que palavras, não veja isso como uma imperfeição, mas como uma possibilidade. Representar uma ideia com imagens é algo belíssimo, e a fotografia é capaz de mostrar o abstrato na vida real, capturando imagens de um mundo objetivo, mas que transmitem mensagens subjetivas.

Arte e técnica

Falei sobre o domínio dos elementos da fotografia. Isso se chama técnica e muitas pessoas acreditam que a técnica não é necessária para se produzir arte, que o método mata a beleza e a criatividade. Não poderiam estar mais erradas.

Se um pintor não sabe criar cores, não é capaz de extrair o máximo das tintas, se um escritor tem pouco vocabulário, pode falhar na tradução das suas ideias para palavras, e se um fotógrafo não domina a composição, ele não vai conseguir criar as suas fotografias.

A técnica é a ferramenta em suas mãos, um bom profissional consegue ter um certo resultado com uma ferramenta fraca, mas nunca vai atingir o máximo que sua capacidade permite. Na fotografia, as maiores ferramentas são a sua técnica, e para desenvolvê-la é uma questão matemática, quanto mais você fotografa, mais você se desenvolve.

Critique seu trabalho

Parece contraditório dizer que você não deve julgar as suas ideias (e não deve mesmo) e em seguida dizer que deve criticar seu trabalho, mas esse é um passo importante e tem uma hora certa de acontecer.

Criar qualquer trabalho criativo é como cozinhar, você reúne os ingredientes, mistura-os em determinada ordem e leva ao forno, e assim como na cozinha, você não pode experimentar seu prato a qualquer momento.

A hora de não provar o prato

Quando você está assando um frango, você não experimenta a carne crua, certo? Porque além de poder te deixar doente, provar a carne nessa hora não vai dizer nada sobre o resultado final. A carne crua não vai te mostrar se o frango ficou bem assado.

Da mesma forma, julgar sua ideia assim que ela surgiu é como prová-la crua, ela não está pronta, mal saiu da geladeira, e você já quer que ela seja posta à prova. Isso só vai se fazer ficar enjoado da sua ideia e descartá-la.

A hora de provar o prato

Não necessariamente a hora de provar é apenas no fim da “receita”. Muitas vezes temos momentos intermediários em que podemos provar o que estamos cozinhando, e por isso é importante haver um certo planejamento quando escolhemos seguir com uma ideia.

Na criação de uma foto, existem três momentos em que você pode “provar” sua ideia. A primeira é antes de clicar, quando você está montando os elementos da sua foto e percebe que existe algo que impeça o que você imaginou de acontecer no mundo real. Nesse caso, você pode reavaliar a ideia e deixar que as limitações te guiem para uma solução criativa.

O segundo momento é depois do clique, usando seu conhecimento para avaliar se aquela fotografia bruta irá se tornar o que você planejou, e se não, você tem toda a capacidade do seu cartão de memória para repetir o clique até conseguir o que quer.

Por fim, após a pós-produção, o resultado final sempre deve ser avaliado. O julgamento com as suas ideias vai te limitar, mas isso porque você está apenas trabalhando numa zona particular. Quando seu trabalho vai se tornar público, você deve analisar o resultado final e se perguntar: “Essa foto reflete a excelência que eu emprego no meu trabalho?”

Avaliar a sua foto entre esses pontos pode não só te fazer descartar uma ótima ideia, como também te dar uma falsa sensação de que as ideias boas saem prontas da nossa mente, e não são construídas.

Nenhuma boa ideia nasceu pronta e todas elas foram desenvolvidas, testadas e avaliadas antes de se tornarem públicas. Milhares antes delas foram descartadas até que uma vingou, cresceu e deu frutos. Sempre se lembre disso.

Gabriel Chaves
Gabriel Chaves

Administrador de empresas em formação, escritor de ficção e fotógrafo amador.

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