Como fazer um cliente sorrir naturalmente para a câmera?

Existem várias maneiras de fazer um cliente sorrir naturalmente. Especialmente um cliente que não seja um(a) modelo ou ator/atriz. Pense um pouco: como e quando pessoas comuns sorriem?

Essa é uma dificuldade recorrente: dirigir pessoas que não são modelos profissionais. E um detalhe importante que frequentemente está no caminho do fotógrafo: como fazer o cliente sorrir naturalmente? Bem, existem duas maneiras. Vamos ver isso.

É muito comum alunos e até colegas me pergutarem como eu dirijo meus “modelos”. E eu sempre digo: não dirijo. É isso mesmo, eu procuro, sempre que possível, não dirigir. Pra mim, uma coisa é eu dizer: “vamos caminhar por ali, sente-se aqui, me fale sobre seu trabalho…” outra é: “sente-se aqui, incline a cabeça, abaixe um pouco o queixo, afaste os lábios levemente”…isso me dói.

Como não fazer isso

Umas das coisas mais infames (me perdoem os que fazem isso) na fotografia de pessoas comuns (entenda aqui como pessoas que não são modelos profissionais) é dizer: “sorria!” Nada mais artificial que um sorriso solicitado. Com crianças então…é o que eu chamo de sorriso cenográfico. Ninguém (a não ser que seja um ator ou modelo profissional), sorri “de mentira” e convincentemente. As pessoas sorriem belamente quando estão transbordando naturalmente.

Outra mania comum é ir clicando e dizendo, “isso, linda”, “maravilhosa”, “linda, linda”… gente, que mico! Muitos fotógrafos fazem essa cena, falsa, vazia. Pessoalmente me dá um mal-estar danado. Pra que isso? Isso é uma infantilização da relação fotógrafo/modelo (profissional ou não). Por que não agir com maturidade, assertividade e naturalidade?

Eu não quero uma fotografia, especialmente um retrato, com um determinado “shape”, uma determinada estrutura, pose ou aparência pré-definida. Eu quero sempre que possível, o mais autêntico e natural, onde cada retratado seja único. E conseguir isso é muito difícil. Mas vale à pena buscar.

É certo que em fotografia publicitária, isso não é o padrão e simplesmente segue-se o script do mercado. Força do meio. Modelos publicitárias são atrizes, interpretam papéis. É isso. Se você é fotógrafo publicitário, ok. Mas na fotografia de pessoas comuns, em seu cotidiano, em um ensaio mais expontâneo ou num documentário, o que eu quero é o que as pessoas são.

Qual o problema de alguém não ser risonho? Qual o problema de não sorrir o tempo todo? Ou mesmo, não gostar muito de sorrir? Muita gente é assim, pra dentro, na dela. Eu quero registrar o que o retratado é. Isso é muito difícil. Talvez por isso mesmo é que exista essa insistência de “olha aqui, sorria!”. Assim, você coloca todo mundo em uma padrão socialmente “legal” e aceitável.

Frequentemente eu retrato as pessoas sem que elas estejam olhando para a câmera. E quando mostro a foto, capturada em um momento de descontração, é comum o retratado dizer que gostou muito, que ficou expontâneo. A câmera sempre interfere, ela sempre está no caminho. Precisamos aprender a contornar essa barreira.

A melhor técnica: conversar

Mas mesmo quando o olhar está dirigido para a minha lente, eu converso, procuro interagir ao invés de dirigir. Vamos pepeando, fazendo perguntas, deixando a pessoa me contar o que quer. Eu, de quebra, ainda aprendo muito. E de repente, vem o momento, e seu eu for atento o suficiente e desenvolto o suficiente, vou pegá-lo.

Um fotógrafo que gosto muito, e que tem um estilo de retratos muito expressivo e pessoal é o inglês Platon. Simples em composição, mas complexos em expressão. Isso vem da maneira como ele interage. Vem da estratégia que ele tem para deixar que o retratado se mostre. Sem forçar, sem exigências. Como ele é, não como o fotógrafo espera.

Outros grandes retratistas como Steve McCurry, Chris Orwig e Yousuf Karsh me inspiram e eu procuro gastar o tempo que posso encarando suas fotos. Elas me fazem saber que o momento correto de um olhar pode falar mais sobre o retratado do que ele mesmo gostaria ou saberia de dizer.

Essa experiência interativa, é muito mais rica e fascinante que a dirigida. Mas é preciso que o fotógrafo queira e aceite que nem todo mundo quer ou fica bem sorrindo, com a mão delicadamente posta no rosto, ou um queixo baixo, ou… pare com isso! As pessoas ficam bem como são. Talvez você não esteja vendo isso. Talvez o próprio retratado queira o “não-natural”? Sim, pode ser. Bem, esse não é meu cliente. E ele não sabe que fica melhor na foto do jeito que é.

CHARBEL CHAVES
CHARBEL CHAVES

Fotógrafo e Professor de Fotografia desde 2010. Desenvolve trabalhos autorais, comerciais e educacionais simultaneamente. Autor do livro "Jornada: As histórias que as fotografias contam"

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