Venda muito mais que fotografias

Pode não parecer, mas nosso negócio é fazer mais que fotografias. Olhando bem, fotografias são apenas ótimos pretextos para entregar muito mais que um arquivo digital ou um pedaço de papel com uma linda imagem.

Se você quer viver de fotografia, precisa pensar além da fotografia. Quero apresentar (e persuadir) você fotógrafo, uma mudança de visão sobre seu próprio trabalho e como essa mudança pode colaborar muito para o sucesso do negócio em si. Mas pra isso, o próprio fotógrafo precisa entender qual é o seu papel.

A fotografia conta histórias

A fotografia é registro da realidade? Sim. Mas também uma ótima maneira de contar uma história pessoal, uma versão de fatos, uma opinião.

Seres humanos adoram histórias sobre seres humanos. Contos, romances, tragédias e piadas nos unem ao redor de uma mesa com uma vela, de uma fogueira ou de uma tela de cinema.

A luz que nos atinge não é física, mas imaginativa. A história cria em nossa mente um filme completo. E em cada mente, uma versão.

Se essa história for disparada por fotografias, é possível ao mesmo tempo dar pontos fixos (elementos reais registrados) e intervalos de interpretação entre imagens. Isso é muito forte!

Num álbum de fotografia, num fotolivro, num slideshow sempre há muito espaço para interpretação e isso enriquece a narrativa. Sempre há mais do que é mostrado. Mas o que é mostrado é guia, é direção.

O fotógrafo aqui é o contador de histórias. E comercialmente pode aplicar essa abordagem em quase qualquer tema: um acontecimento, uma família, uma pessoa, uma empresa… fotografia documental! Venda histórias, não fotografia.

A fotografia toca as pessoas

Um fotografia que carrega significado além da imagem é um gatilho para emoções. É como se ela existisse para disparar conteúdo que já está na mente e no coração do observador.

Essa capacidade de carregar uma alma, uma intenção, é tão forte que pode fazer com que a própria imagem (gráfica) seja praticamente esquecida. O observador é tocado, quase sequestrado, pelo sentimento.

Muitas fotografias nesse âmbito são simples, sem requintes técnicos, sem malabarismos tecnológicos. São essenciais, composicionais, mas densas. Como um poema é. Inclusive, os poemas propriamente ditos, são excelentes fontes de inspiração!

O fotógrafo aqui é um poeta visual. As coisas mais banais do dia a dia podem ser temas incríveis. A busca não é pela imagem, mas pelo significa, pela representação, pela analogia, pela alusão. Não venda fotografias, venda poemas visuais.

A fotografia transforma

Algumas fotografias nos fazem parar para pensar. Existe nelas, um tempo entre ver e reagir. Elas intrigam, prendem, chamam nossa atenção.

Ela é, potencialmente, um agente de mudança. O foto-jornalismo e o documentarismo é o âmbito dessa faceta da fotografia. Quando associada ao texto, a imagem pode ganhar uma força ainda maior.

O profissional da imagem que pretende enveredar por essa vertente precisa desenvolver um apreço pelo tema (e seu entendimento profundo) bem acima do apreço pela estética, mas sem abandoná-la.

O fotógrafo aqui é um questionador. É um observador do comportamento humano e suas relações. Não venda fotografia, venda reflexão.

A fotografia deslumbra

Fotografias com composição criativa, impactantes esteticamente, promovem a alegria, a fruição, o sorriso e o deslumbramento.

O mercado de Fineart é a prova disso. Fotografias tecnicamente muito bem capturadas, tratadas e impressas ganham papel, moldura e parede em casa ou instituições que se importam com a beleza.

Para este mercado é fundamental o rigor com o acabamento, desde a gênese da imagem. Mas também é igualmente importante um estratégia de venda focada no cliente que valoriza a arte visual, a decoração, a arquitetura e o conforto.

O fotógrafo aqui é um esteta. Ele vai sempre buscar o “Nossa! Que lindo!”. Não venda fotografia, venda Beleza.

A fotografia vende

A fotografia é mono-sensorial. Nós apenas vemos a fotografia. Neste sentido, ela é muito limitada. Esse limite, na verdade pode ser o grande barato. É possível acionar outros sentidos (olfato, tato, audição e paladar) do observador através da imagem correta.

Uma fotografia concebida para venda é persuasiva. Ela irá despertar algum repertório interno do observador que será levado, ao desejo pelo objeto fotografado e por fim, uma compra.

O fotógrafo aqui é um promotor de vendas. Ele deve trabalhar pensando em colaborar com os objetivos comerciais do seu cliente. Não venda fotografia, venda uma ferramenta de marketing.

A fotografia revela

Um retrato é incrível quando mostra mais do que o retratado. E isso é difícil e muito raro.

A arte do retrato é mais que um gênero fotográfico, é uma habilidade que pode estar presente em praticamente todos os nichos.

Mas pra ser forte, o retrato tem que ser fruto do contato entre duas pessoas, não entre fotógrafo e cliente simplesmente. Tem que estar na frágil posição entre o ver e o entender.

Uma sessão fotográfica que resulta em um excelente retrato tem muito mais que conversa, barulho de click ou recarga de flashes. O grande retrato quase surge e some quando ele quer. É preciso estar muito atento.

No final do processo, quando bem sucedido, o retratado irá descobrir-se ou reconhecer-se profundamente na imagem, dependendo do seu grau de maturidade.

O fotógrafo aqui é um ouvinte atento. Ele busca trazer para a imagem algo que o retratado quase luta pra esconder. Não venda fotografia, venda auto-estima.

A fotografia te revela

Vários grandes fotógrafos da história cunharam frases que expressam essa verdade: a boa fotografia é sempre um tipo de auto-biografia.

Qualquer pessoa que estuda fotografia com afinco, logo percebe o quanto isso é real. Mas essa revelação pode também ser um atrativo comercial.

Quando eu me reconheço e sou reconhecido em um trabalho, podemos dizer que ele é um trabalho autoral. Pode até ser um portfólio que aplicação comercial também, mas deve haver o autor nele.

Nome meu caso, minha paixão pela narrativa visual, pelo documentarismo é o que mais me fala de mim. Sejam temas urbanos da minha cidade, podem ser de lugares distantes daqui, não importa.

O fato de eu apresentar esse lado da minha produção em meu site, escrever sobre isso, falar sobre isso…gruda em mim a ideia de que observar e narrar visualmente é parte do que eu sou como pessoa. O cliente entende isso.

O portfólio autoral de um fotógrafo atrai o cliente que ama o que o fotógrafo ama, que se importa e valoriza o que o fotógrafo valoriza.

Então, descubra e invista algum tempo em criar um portfólio autoral e publique-o dentro do seu site. Chame-o de “lado B”, “autoral” ou “mais de mim”. Não importa muito. O importante é deixar que as pessoas te conheçam por aquele tipo de fotografia que mais revela quem você é.

Mas vale aqui uma ressalva. Nas redes sociais, tenha páginas específicas para cada portfólio. Não há problema nenhum em atuar em diversas áreas, mas a divulgação deve ser dirigida para cada público-alvo. Entretanto, no site, você pode dispor isso de forma mais conjunta.

Venda muito mais que fotografia

Acho que neste ponto do texto você já percebeu que eu tentei dar aqui argumentos de venda para o convencimento do seu cliente, e motivações para o fotógrafo.

Consequentemente, isso afeta seus contatos com o cliente desde o seu site, passando pela sessão fotográfica até a entrega do trabalho.

Por isso, vender fotografia é muito pouco. Então, não se contente só com isso. Vá além, mais fundo. Isso será fonte de energia para sua mente, renovação para a sua fotografia e motivo mais que plausível para que o seu cliente pague mais pelo que você entrega.

Então, entregue muito mais que fotografias.

CHARBEL CHAVES
CHARBEL CHAVES

Fotógrafo e Professor de Fotografia desde 2010. Desenvolve trabalhos autorais, comerciais e educacionais simultaneamente. Autor do livro "Jornada: As histórias que as fotografias contam"

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